Valor Econômico – Sem pagar tarifa e com logística mais barata, país vizinho ao mercado americano amplia embarques
Embora ainda sejam o segundo principal destino dos embarques brasileiros de suco de laranja, os Estados Unidos já não têm mais o peso de outrora para as grandes indústrias instaladas no país nesse comércio. Também grandes produtores e exportadores da bebida, os americanos têm dado cada vez mais preferência ao suco do México para suprir sua demanda, e uma reconquista sustentável de espaço pelo Brasil dependerá, em larga medida, de uma isonomia tarifária com o concorrente latino da América do Norte.
Estudo recém-concluído pela CitrusBR, entidade que representa as três maiores exportadoras de suco de laranja brasileiro (Citrosuco, Cutrale e Louis Dreyfus Company), mostra que as vendas do México para os EUA, que começaram a ganhar força em 1993, dispararam a partir de 2008, quando o imposto de importação que incidia sobre o suco de laranja concentrado e congelado (FCOJ) do vizinho foi zerado – no âmbito do acordo do Nafta – e o produto brasileiro continuou a pagar US$ 415,86 por tonelada.
Em 1993, quando a taxa dos EUA que onerava o suco de todas as origens ainda era de US$ 490,02, o Brasil exportou aos EUA 144,5 mil toneladas de FCOJ; em 2019, o volume foi de 71,1 mil. Na mesma comparação, mostra a CitrusBR, as vendas do México subiram de 9,8 mil toneladas para 74,7 mil, o que transformou o país no maior fornecedor estrangeiro da bebida para o mercado americano. No total, os EUA continuam a importar entre 150 mil e 160 mil toneladas ao ano, a depender de sua safra de laranja e dos estoques disponíveis.
“Com um produto de boa qualidade, semelhante ao produzido na Flórida, e um custo de frete terrestre cerca de 50% mais barato em comparação à logística marítima brasileira, o produto mexicano segue ganhando espaço. Em 1993, a participação mexicana [nas importações de FCOJ dos EUA] era de 6%, enquanto a brasileira correspondia a 89%. Transcorridos 28 anos, a participação mexicana aumentou para 46% e a brasileira caiu para 44%”, reforça o estudo da CitrusBR.
A entidade também calcula que, de 2008 a 2019, o FCOJ brasileiro foi taxado com imposto de importação americano, no total, em US$ 548 milhões, enquanto o México deixou de pagar US$ 405 milhões. Essa “economia” não precisou ser destinada a investimentos na expansão da área mexicana de plantio de laranja, que tem se mantido relativamente estável em torno de 340 mil hectares – ante 400 mil hectares de área produtiva em São Paulo e Minas, onde as indústrias exportadores de suco brasileiro se abastecem de matéria-prima. “Com 65 milhões de árvores produtivas há mais de dez anos, o incremento da oferta do México acontece pelo aumento da produção de caixas por árvore, devido à renovação de pomares e, também, tratos culturais”, diz a CitrusBR.
Conforme a associação, depois de aplicadas as deduções de imposto de importação, custos de desembaraço e fretes – marítimo no caso brasileiro e terrestre no mexicanos -, a diferença chegou a quase US$ 485 em favor dos exportadores do país da América do Norte na safra 2019/20, encerrada em junho. Enquanto o suco do México registrou valor FOB médio de US$ 1.378,75 nos EUA na temporada, o brasileiro gerou remuneração de US$ 894,95, segundo os cálculos da CitrusBR.
Como uma severa estiagem prejudicou os pomares mexicanos este ano e a produção de suco do país deverá recuar cerca de 60%, segundo estimativas do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), o Brasil poderá ampliar as vendas ao mercado americano, desde que os estoques da Flórida não sejam suficientes para suprir a demanda. Mas será um ganho conjuntural, quando para a cadeia citrícola brasileira o importante seria uma retomada estrutural – até porque o mercado global permanece relativamente estável há mais de uma década e novos mercados, como a China, ainda crescem em ritmo lento.
Impulsionados pela força da demanda dos EUA, o México também aproveita negociações comerciais para obter tarifas preferenciais para seu suco de laranja, o que também afeta o Brasil em outros mercados. Foi assim com Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Nicarágua, Japão e Nova Zelândia. Além disso, os mexicanos têm cota de 30 mil toneladas com taxa reduzida para vender à União Europeia, que lidera as importações globais e é o principal mercado do Brasil. A UE comprou US$ 1,2 bilhão do país na safra 2019/20, de um total de US$ 1,8 bilhão; os EUA, US$ 277 milhões.