Marca líder no Estado americano recorre ao produto mexicano para complementar sua produção
(Valor Econômico) – A perda de competitividade das exportações brasileiras de suco de laranja concentrado e congelado (FCOJ) nos Estados Unidos, principalmente em relação ao produto mexicano, continua a evitar que as grandes indústrias do segmento baseadas no interior de São Paulo (Citrosuco, Cutrale e Louis Dreyfus Company), que lideram os embarques globais da commodity, aproveitem novas oportunidades de negócios no mercado americano.
A desvantagem do FCOJ do Brasil, gerado por questões tarifárias, voltou a emergir em meados de maio, por causa de uma necessidade da Florida’s Natural, principal marca de suco de laranja do Estado dos EUA, que abriga o segundo maior cinturão citrícola do mundo para a produção da bebida, menor apenas que o de São Paulo e Minas Gerais.
Ocorre que, com o recrudescimento das adversidades fitossanitárias na Flórida, provocadas pelos estragos derivados da doença conhecida como greening, a companhia, mesmo contrariada, foi obrigada a deixar sua tradicional posição protecionista de lado e a recorrer à importação para compor os blends de seus produtos.
Em um primeiro momento, a Florida’s Natural considerou comprar o suco já pronto para beber (NFC) do Brasil, mas como os problemas fitossanitários no Estado americano pioraram, teve que partir para o FCOJ. O que está em jogo é a concentração no blend. Abaixo de 10,5% brix – medida do total de sólidos solúveis do suco, formados basicamente por açúcares primários (sacarose, frutose e glicose) -, a bebida não é considerada NFC, e o produto da empresa estava com teor de cerca de 9,2%.
Tributação
Como o NFC brasileiro, que gira em torno de 11,8% brix, passou a ser insuficiente para puxar a média da Florida’s Natural para cima, a saída foi partir para a importação do FCOJ (brix de 66%), e o Brasil perdeu outra chance. Desde 2008, com o Nafta, o imposto de importação que incidia sobre o suco de laranja concentrado e congelado do México foi zerado, enquanto o do Brasil continuou a ser onerado em US$ 415,86 por tonelada.
Além disso, como lembra a Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), a Receita Federal cobra 34% de Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) sobre esse imposto de importação dos EUA. Ou seja, são US$ 141,40 a mais, que elevam a oneração total para US$ 557,26 por tonelada e reduzem a competitividade do FCOJ brasileiro nos EUA.
“Em fevereiro, anunciamos que, devido à redução da oferta da Flórida e à deterioração da qualidade, a marca Florida’s Natural começaria a misturar o NFC brasileiro em todos os seus itens. Infelizmente, a previsão de safra de laranja da Flórida caiu ainda mais que o esperado e a quantidade e qualidade dos sólidos NFC brasileiros necessários para sustentar a marca Florida’s Natural tornou o plano anunciado anteriormente impraticável”, disse o CEO da companhia americana, CEO Bob Behr, em comunicado aos clientes.
O executivo continua: “Após cuidadosa consideração, começaremos a misturar o melhor de nossos sólidos NFC da Flórida com o mais alto grau de concentrado de suco de laranja mexicano em todos os itens de suco de laranja da marca Florida’s Natural. Essa transição acontecerá entre meados de maio e meados de junho. Essa mudança significativa é necessária para garantir a saúde futura da marca”. Resumo: uma oportunidade perdida para o Brasil.
A empresa americana não revelou o volume de FCOJ que está comprando no México, mas o greening, doença que a levou ao vizinho, afeta a citricultura da Flórida há muitos anos e não é difícil que a demanda americana aumente nos próximos anos por causa disso. Mesmo com a desvantagem tarifária, os EUA ainda são o segundo maior destino das exportações brasileiras, mas o crescimento da produção mexicana continua a avançar sobre essa fatia.