Fundecitrus – 13/07/2017 – Controle adequado possibilita manter a doença em níveis mais baixos
A incidência do greening (huanglongbing/HLB) permanece alta no parque citrícola de
São Paulo e Minas Gerais. De acordo com o levantamento do Fundecitrus 2017, divulgado
em junho, a doença contamina 16,73% das plantas do parque, o que representa 32 milhões
de árvores doentes.
No entanto, os citricultores que têm adotado o pacote de manejo completo do greening
estão conseguindo manter a doença em incidências baixas em suas propriedades. Conheça
nesta matéria a história de duas famílias que estão driblando os desafios da doença e
mantendo a produtividade e qualidade de seus pomares.
TALHÃO “PILOTO”
Percorrendo os pomares de Antônio Carlos Gerolamo e seu pai, na citricultura desde
meados da década de 1980, nota-se facilmente o esmero. A baixa taxa de queda e a
alta produtividade são indícios consistentes de que a incidência de HLB, ao menos
por ora, está controlada.
Os que pensam ser sempre possível melhorar nunca estão satisfeitos. Se você estiver
em Tabatinga (SP), na região Centro, uma das mais afetadas – 26,97% de plantas doentes
de acordo com o levantamento do Fundecitrus de 2016 –, essa mentalidade pode ser
decisiva para sua sobrevivência.
Dos 120 mil pés de laranja das variedades Hamlin, Pera e Valência, distribuídos em
três propriedades no município, 16 mil pés de laranja Pera estão no talhão que os
Gerolamo convencionaram chamar de “piloto”, formado há três anos.
Como todo projeto passível de receber essa nomenclatura, o novo talhão, em relação
aos demais, incorpora práticas que, em caso de sucesso, ou seja, se capazes de tornar
o manejo ainda mais eficaz, serão replicadas nas plantações futuras.
No talhão “piloto”, aumentou-se o rigor no controle do psilídeo Diaphorina citri,
que transmite a bactéria Candidatus Liberibacter, agente causal do HLB, por meio da
aplicação de inseticidas sistêmicos (drench) e pulverizações mais frequentes em
toda a área plantada, de modo que a parte interna do talhão e as bordas recebem o
mesmo tratamento. “A pulverização para controlar o psilídeo não é cara”, afirma
Gerolamo.
Ele conta que a sanidade do pomar “piloto” foi beneficiada pela decisão do vizinho
de erradicar o pomar abandonado. “Quando fui informado, pedi a ele que me permitisse
pulverizá-lo antes a fim de evitar que os insetos migrassem para o meu talhão, e ele
consentiu”, diz.
Além das laranjas Pera que Gerolamo destina ao mercado de fruta fresca, ele vem colhendo
o êxito que todo citricultor almeja atualmente: a contenção do avanço da doença. Nesses
três anos, foram apenas 380 pés erradicados, todos na borda.
A incidência acumulada de pouco mais de 2% no período o deixou animado. Em outubro, as
ações do talhão “piloto” passam a reger o manejo de HLB nos novos plantios. São elas que
vigorarão no talhão de 35 a 40 mil pés de laranja Pera Rio que ele e o pai vão plantar.
SEGUINDO OS DEZ MANDAMENTOS
Há primor em cada detalhe. Nas cercas pintadas, na horta ao redor da casa. No pequeno
coqueiral para baixo dela. Na preservação da mata da nascente. Nos pomares. O aconchegante
sítio dos irmãos José Aparecido e Mário Finoto, na citricultura desde 1969, faz jus ao nome
da cidade, Paraíso (SP), no Norte do Estado. As condições no entorno da propriedade, que
favorecem o alastramento do HLB, nã
Num raio de cinco quilômetros, alguns pomares com controle inadequado. A dois quilômetros,
murtas no cemitério do município. Nas imediações, diversas chácaras, todas ou quase todas
com pés de limão ou de mexerica Ponkan, evidentemente sem controle químico do psilídeo. No
ano passado, em duas delas, o Fundecitrus realizou a soltura das vespinhas Tamarixia radiata,
inimigas naturais do Diaphorina citri que ajudam a diminuir a população do inseto.
Para a manutenção da incidência de HLB em níveis baixos nos 25 mil pés das variedades Hamlin,
Valência, Valência Americana, Natal e Ponkan, a família Finoto intensificou o controle, com
pulverizações mais frequentes nas bordas dos pomares em formação e mais jovens e aplicação de
inseticidas sistêmicos (drench) nos pomares com até dois anos de idade.
Mário e Rogério Roberto, filho de José Aparecido, relatam que eles e um vizinho que também
cuida corretamente das suas árvores, tiveram recentemente uma conversa cordial com o dono de
uma chácara nas proximidades que mantinha cerca de 80 pés de limão Taiti sem o controle adequado.
“Ele falou para nós: ‘eu entendi perfeitamente o problema de vocês, mas não tenho dinheiro, se
vocês arcarem com os custos, podem arrancar’. Nós concordamos e resolvemos a situação, tudo de
maneira amistosa”, diz Mário.
Todo esse empenho, segundo eles, tem valido a pena. Em média, são erradicados aproximadamente 250 plantas por ano, equivalente a 1% do total de árvores.
Integrantes do Alerta Fitossanitário – Região de Bebedouro (SP) – desde 2016, os Finoto, acerca do
programa do Fundecitrus que organiza informações sobre a população de psilídeo e o surgimento de
brotações nas propriedades cadastradas em 12 regiões monitoradas, têm a mesma opinião dos Gerolamo, inseridos no Alerta – Região de Araraquara (SP) – desde a implantação da ferramenta, em 2013.
“É uma ferramenta muito fácil de usar”, comenta Rogério. “Como nós temos um calendário, os dados do sistema online servem de base para antecipamos ou atrasarmos alguma pulverização, para a aplicação
acompanhar a população de psilídeo naquele momento”, explica Mário Finoto, exatamente como faz
Antônio Carlos Gerolamo. É mais um dos pontos que essas duas famílias de citricultores precavidos
têm em comum.