Valor Econômico – 30/08/2018 – Levantamento indica que indústrias de menor porte já respondem por quase 10% das extratoras da bebida
Evidente nas gôndolas nos últimos anos, a proliferação de marcas de suco de laranja integral e de néctares e refrescos que contêm a bebida pôs em marcha um movimento há muito desejado por consumidores e citricultores. De um lado, cresceu no varejo o leque de produtos à disposição a preços mais acessíveis; de outro, aumentou o número de empresas que compram e processam a fruta, antes praticamente restrito às grandes indústrias exportadoras de suco, concentrado (FCOJ) ou já pronto para beber (NFC).
Levantamento realizado pela Associação Nacional dos Exportadores de Sucos cítricos (CitrusBR) baseado no número de extratoras de suco de laranja instaladas nas fábricas comprovam o avanço, que aconteceu paralelamente à redução da capacidade das grandes empresas reunidas na entidade (Citrosuco, Cutrale e Louis Dreyfus Company), em consequência de ganhos de eficiência e da redução da demanda externa por suco de laranja.
Atualmente, as companhias de pequeno porte abrigam 79 extratoras de suco de laranja instaladas no país – são consideradas pequenas as fábricas que contam com até 14 unidades, e cada uma tem capacidade para espremer mais de cinco laranjas por segundo. O número equivale a 9,6% de um total de 820. A participação das empresas médias (de 14 a 40 extratoras), que têm 128 equipamentos do gênero, chega a 15,6%, enquanto a das grandes (41 ou mais), que contam com 613, alcança 74,8%.
Em 2009, antes do boom de marcas de suco no mercado doméstico, as pequenas reuniam 26 extratoras, ou 3,1% de um total de 831 unidades. As companhias de médio porte tinham fatia de 12,5%, e as grandes ficavam com 84,4% – mais ou menos a mesma divisão observada em 1999 (ver infográfico). Essa “estabilidade” dos resultados de 1999 e de 2009, segundo especialistas, também foi fundamental para a desconcentração.
Quando a praticidade de um suco 100% de laranja já pronto para beber começou a ameaçar a “cultura do espremedor” e a conquistar consumidores, muitos produtores descontentes com o fato de dependerem da demanda das grandes indústrias exportadoras e dos baixos preços pagos pela fruta em muitas safras passaram a investir em extratoras e a criar muitas das dezenas de marcas de suco de laranja integral que passaram a ser encontradas nas prateleiras.
Assim nasceu a marca Integral Soul, produzida em quatro extratoras da fábrica da Brasil Citrus em Tabatinga (SP), município próximo de Araraquara, Bebedouro e Matão, mais importante polo de processamento de suco para exportação do mundo, para se ter uma ideia, na fábrica de suco de laranja da Citrosuco em Matão, a maior do mundo, há quase 200 extratoras.
Fundada pela família Cardili, que começou a produzir laranja no interior paulista depois da Segunda Guerra Mundial, a Brasil Citrus, cujos controladores já tinham experiência na comercialização da fruta para o entreposto da Ceagesp na capital do Estado, começou a produzir suco para merendas e refeições industriais há cerca de 20 anos. Nos últimos anos passou a direcionar seus esforços para a fabricação da bebida para o varejo, e tem obtido resultados positivos com isso.
“É uma boa opção para o produtor, mas há restrições. A logística para a entrega do produto ao varejo, por exemplo, é complicada. Outro problema é que, apesar de o consumo doméstico de suco de laranja integral pronto para beber estar em alta, esse mercado ainda é instável. Mas não é apenas modismo. O suco de laranja é fonte de vitamina C e um produto saudável que pode até substituir refeições”, afirma Dagoberto Cardili, que comanda a Brasil Citrus.
É por isso, observa o produtor que virou fabricante de suco, que muitas novas marcas lançadas nos últimos anos não sobreviveram para fazer companhia nas prateleiras às tradicionais Xandô e Fazenda Bela Vista. “Mas é normal que aconteça um ajuste, já que surgiram muitas marcas nos últimos tempos”, afirma Cardili.
No que depender do consumo doméstico, o cenário ainda parece promissor. Segundo a consultoria britânica Euromonitor, o a demanda por suco de laranja 100% tem crescido 10% ao ano, com a ajuda da oferta de pequenas empresas, e a expectativa é que o avanço continue.
Cálculos da CitrusBR indicam que o Brasil tem um potencial de consumo adicional de suco equivalente a 50 milhões de caixas de 40,8 quilos de laranja. A produção total em São Paulo e Minas (principal polo de matéria-prima para grandes e pequenas companhias) nesta safra 2018/19, iniciada em julho, deverá ser pouco inferior a 290 milhões de caixas.