Valor Econômico – 08/10/2018 – Estudo da Markestrat mostra que em 2017 a demanda mundial por suco de laranja somou 1,882 milhão de toneladas, 3,8% a menos que no ano anterior
A forte queda da produção brasileira na safra 2016/17 aprofundou a tendência de retratação da demanda global por suco de laranja no ano passado. E não só pelo expressivo aumento dos preços, normal em si, uma vez que o Brasil responde por mais de 80% das exportações globais.
Estudo recém-concluído pelo Centro de Pesquisas e Projetos em Marketing e Estratégia (Markestrat), consultoria com sede em Ribeirão Preto (SP), mostra que em 2017 a demanda mundial somou 1,882 milhão de toneladas equivalentes ao suco concentrado e congelado (FCOJ), 3,8% menos que no ano anterior.
Pela primeira vez desde o início da série histórica do trabalho, em 2003, que o resultado ficou abaixo de 1,9 milhão de toneladas. Foi a oitava queda anual consecutiva e, na comparação com o volume de 2003, o de 2017 foi 21,6% mais baixo. São 517 mil litros a menos na comparação, quase todo o consumo americano no ano passado.
Na safra 2016/17, lembra Ibiapaba Netto, diretor-executivo da CitrusBR, entidade que representa as grandes indústrias exportadoras de suco brasileiro (Citrosuco, Cutrale e Louis Dreyfus Company), a debacle da produção de laranja no cinturão formado por São Paulo e Minas, em razão de adversidades climáticas, reduziu a produção e os estoques de commodity.
Com isso, as vendas ficaram limitadas sobretudo no primeiro semestre do ano passado, antes da entrada no mercado da produção de suco de laranjas da temporada 2017/18, que entrou em rota de normalização. E, claro, o suco disponível ficou mais caro, o que colaborou para afastar consumidores das gôndolas.
Pesquisas conduzidas por associações de citricultores da Flórida, Estado americano que ainda abriga o segundo maior parque citrícola do mundo, apesar da crise da última década, causada por intempéries e pela proliferação da doença conhecida como greening, mostram, por exemplo, que para cada ponto percentual de aumento de preços no varejo o consumo cai quase três pontos percentuais nos Estados Unidos.
No país, principal mercado do mundo para o suco de laranja, o consumo recuou 9,5% em 2017, para 570 mil toneladas. A queda em si não é novidade, desde 2003 só houve três anos de aumento da demanda no país, mas a profundidade do tombo surpreendeu. Superando a baixa de 8,4% de 2015 e foi a maior da série histórica.
Reduções de consumo voltaram a dar o tom também na Alemanha e na França, que tradicionalmente formam o pódio dos três maiores mercados para as vendas de suco de laranja no mundo. No primeiro a baixa em 2017 alcançou 4,4%, para 142 mil toneladas, ao passo que no segundo foi de 1,4%, para 134 mil, conforme o estudo do Markestrat, que é baseado em informações de TetraPark, Euromonitor, Planet Retail e Departamento de Citrus da Flórida, entre outras fontes.
Entre os grandes consumidores do mundo desenvolvido, o alento foi o Reino Unido, onde houve leve incremento de 0,7% no ano passado em parte graças a promoções que contaram com recursos de engarrafadores, distribuidores e da própria CitruBR, ali, o suco de maça, concorrente do suco de laranja integral, perdeu um pouco de espaço.
Na China, que lidera o aumento do consumo no mundo emergente, houve crescimento de 1% no ano passado, para 130 mil toneladas de 2003 a 2017, o aumento foi de 183,8%. Mas o grande destaque positivo foi o Brasil, onde o avanço foi de 3,4%, ou de 63,5% desde 2003.
O fato é que, ao mesmo tempo em que concorrentes do suco de laranja 100% como néctares e refresco se multiplicaram na última década no mercado brasileiro, como em outros países, daí a queda do consumo global, cresceu também nas gôndolas o número de marcas de suco de laranja pronto para beber, e os preços se tornaram mais acessíveis.