Valor Econômico – 23/10/2018 – Leonardo Andrade, da Companhia dos Fermentados, espera produzir 200 mil garrafas por mês do chá gaseificado em 2019, hoje são 10 mil
No momento em que os consumidores brasileiros buscam aumentar o consumo de alimentos e bebidas naturais, avança rapidamente no país a produção de Kombucha (pronuncia-se combutchá). A bebida foi descoberta na China há mais de 2 mil anos, e é composta por chá preto ou chá verde fermentado com açúcar e suco de frutas. A bebida é feita com ingredientes naturais, sem conservantes ou outros aditivos. E tem sido apreciada como alternativa ao refrigerante, por ser gaseificada e conter pouco açúcar e baixo teor de calorias.
O Kombucha começou a ser consumido no Brasil de forma artesanal, por pessoas que se interessaram em desenvolver a bebida em casa. Há cerca de três anos, algumas indústrias de pequeno porte começaram a produzir a bebida, para venda em mercados regionais. Neste mês, o Kombucha passa a ser produzido por uma indústria de bebidas de grande porte para distribuição nacional: o grupo Famiglia Zanlorenzi, do Paraná, que produz vinhos e sucos integrais, e é dono da marca Campo Largo.
A Famiglia Zanlorenzi colocou no varejo neste mês kombucha com a marca Campo Largo, com diferentes sabores. A bebida é feita a partir do chá verde. Giorgeo Zanlorenzi, diretor-presidente da companhia Famiglia Zanlorenzi, disse que começou a desenvolver o produto há um ano. “No mercado americano, as vendas de kombucha movimentam US$ 1 bilhão por ano. No Brasil, a bebida apresenta um enorme potencial de crescimento”, afirmou Zanlorenzi.
Zanlorenzi observou que o mercado de refrigerantes tem caído, 5% ao ano em volume de vendas. E os consumidores substituem os refrigerantes por outras bebidas consideradas mais saudáveis, como água e chá. O executivo disse que vai começar a distribuição da sua kombucha pelas redes do Grupo Pão de Açúcar e do Walmart, que já fizeram encomendas. A empresa não divulga previsão de vendas para este ano do Kombucha, mas disse que a linha vai contribuir para a companhia elevar as vendas de bebidas saudáveis em 45% neste ano. Além do Kombucha, a Famiglia Zanlorenzi produz sucos e chás, com a marca Campo Largo.
De acordo com a Associação Brasileira de Kombucha (ABKom), existem 40 empresas de pequeno porte fabricando o Kombucha. Essas empresas têm uma produção média de entre 2 mil e 5 mil garrafas por mês, ou 25 mil litros por mês, e a venda é feita de forma regional. A estimativa é que esse mercado movimentará, em 2018, aproximadamente R$ 20 milhões em vendas.
Uma das mais “antigas” fabricantes de Kombucha é a Companhia dos Fermentados, de São Paulo, fundada há três anos pelo designer digital Leonardo Andrade e pelo físico Fernando Goldenstein Carvalhaes. Os sócios já fabricavam artesanalmente a bebida como hobby, mas as encomendas dos amigos cresceram rapidamente e decidiram partir para a produção industrial.
“Com dois meses de produção industrial tivemos que mudar de lugar porque a produção já tinha alcançado duas mil garrafas, que era esperado para atingir após seis meses de operação”, disse Andrade. Atualmente, a produção da empresa gira em torno de 10 mil garrafas por mês. O executivo disse que, em fevereiro, a produção era de 6 mil garrafas por mês. “A previsão é chegarmos em dezembro com 40 mil garrafas produzidas por mês”, disse o executivo. Andrade estima que a produção da empresa pode chegar a 200 mil garrafas por mês em 2019, se mantiver o ritmo atual de expansão. A Companhia dos Fermentados faturou R$ 800 mil em 2017 e prevê fechar este ano com receita de R$ 1,5 milhão. As vendas da empresa são concentradas em São Paulo.
Outra grande fabricante de bebida é a empresa Tao Kombucha, de Porto Alegre. A empresa também foi fundada em 20145, pela administradora de empresas Raquel Abegg Leyva e seus três irmãos. A marca Tao é vendida atualmente em 22 capitais brasileiras, segundo a companhia. Gabriel Leiva, socio e diretor comercial da Tao, e irmão de Raquel, disse que as vendas da companhia têm crescido 20% ao mês neste ano. A produção gira em torno de 35 mil a 40 mil garrafas por mês.
“Até o ano passado, as vendas eram mais concentradas em redes de produtos naturais, como a Mundo Verde. Neste ano, começamos a entregar para redes maiores, como Angeloni Supermercados, St. MARCHE, Mercadinhos São Luiz. O mercado está se envolvendo mais neste ano”, disse Leiva. O executivo disse que a companhia ampliou a produção em quatro vezes neste ano, para atender à demandas das redes de varejo.
O Kombucha é uma bebida naturalmente gaseificada e de sabor ácido, feita a partir da fermentação do chá verde ou do chá preto.
A fermentação é feita por uma colônia de bactérias e leveduras, conhecida como “scoby”, sigla que em inglês significa colônia simbiótica de bactérias e leveduras. A aparência do scoby é de um disco gelatinoso e translúcido.
Esse disco é submerso em chá com açúcar. As bactérias e leveduras se alimentam do açúcar contido no chá e começam a produzir substâncias, como vitaminas dos complexos B e C e outros nutrientes. Ao fim do processo de fermentação, que dura em torno de 30 dias, a bebida fermentada é misturada a sucos de frutas e especiarias, dando origem a diferentes sabores de Kombucha. A produção industrial da bebida é feita com autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
No Brasil, a produção começou a ganhar força no ano passado. O preço varia entre R$ 10 e R$ 15 por garrafa de aproximadamente 300 mililitros.
A rápida expansão do consumo de Kombucha no Brasil não é um fator isolado. Globalmente, estima a consultoria americana Micro Market Monitor, esse mercado cresce, em média 25% ao ano, e vai triplicar de tamanho entre 2015 e 2020, chegando a movimentar US$ 1,8 bilhão no fim da década. De acordo com a consultoria, a Kombucha é a bebida funcional que mais cresce no mundo, impulsionada principalmente por vendas nas regiões da Ásia, Pacífico e nos Estados Unidos.