Revista Globo Rural – 20/02/2019 – Segundo a CitrusBR, empresas consideram até construir terminais no país em troca de medida que favoreça a competitividade do suco nacional
As maiores processadoras de suco de laranja no Brasil avaliam possibilidades de investimento na China em troca de medidas que melhorem a competitividade do produto nacional no mercado chinês. A Associação Brasileira dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR) tem conversado sobre o assunto com o Ministério da Agricultura e representantes do país asiático e demonstra otimismo em relação aos rumos da discussão.
A indústria enfrenta no mercado chinês uma tarifa relacionada à temperatura do suco de laranja brasileiro. Se o produto chega a até 18 graus negativos, há uma sobretaxa de 7,5%. Se é 17,9 graus negativo, vai a 30%. É uma “barreira técnica” que não impede as exportações, mas as torna mais caras e impõe dificuldades de logística para os exportadores.
A proposta de investimentos vem sendo discutida pelo menos desde outubro de 2018, informa a CitrusBR, que representa Citrosuco, Cutrale e Louis Dreyfus (LDC). As processadoras querem a revisão da chamada “tarifa de temperatura”. Em contrapartida, consideram a possibilidade de construir terminais para desembarque de suco de laranja a granel no país asiático.
Recentemente, o diretor-executivo da CitrusBR, Ibiapaba Netto, esteve em diversas reuniões com parlamentares e o Ministério da Agricultura. Em 24 de janeiro, por exemplo, ele se encontrou com o secretário de Relações Internacionais, Orlando Leite Ribeiro para conversar sobre “proposta de investimentos do setor na China e possível apoio do Mapa”.
“É um assunto técnico, que está andando. Temos tido apoio da parte do governo brasileiro. Já estive com pessoas do governo da China. Tem tudo para ter um bom desfecho”, afirma ele, acrescentando que a CitrusBR pretende também fazer campanhas de promoção do suco brasileiro no país asiático, a exemplo do que é realizado na Europa.
Netto afirma que ainda não há, mesmo de forma preliminar, um estudo de viabilidade da construção dos terminais. Diz apenas que esse trabalho deve ser feito quando estiverem dadas as condições para o investimento que, explica, não é “algo exatamente barato”. Defende também maior frequência de missões dos dois lados para aumentar a interlocução entre os governos.
“A China tem um jeito muito peculiar de fazer negócios e sem esse olho no olho, sem essa conversa, fica difícil realmente acreditar que as coisas andem”, disse ele, pouco tempo atrás, em vídeo divulgado em redes sociais.
Mercado crescente
Principal parceiro comercial do Brasil, a China também aumentou sua participação como destino das exportações do agronegócio brasileiro. O valor das vendas para o país asiático em 2018 somou US$ 35,59 bilhões, respondendo por 35% do total, o dobro da União Europeia (17,5%), por exemplo. Em 2017, a participação chinesa tinha sido de 27%.
Os embarques de suco de laranja para o mercado chinês aumentaram. De 2017 para 2018, o volume embarcado passou de 32,243 mil para 35,255 mil toneladas e o faturamento dos exportadores, de US$ 62,80 milhões para US$ 73,24 milhões, de acordo com estatísticas do Ministério da Agricultura.
Mas, diferente de outras commodities, a representatividade é pequena. Em uma pauta dominada pelos complexos soja, carnes e de produtos florestais, o suco de laranja do qual o Brasil é o maior produtor e exportador mundial é apenas o décimo da lista.
Para as associadas da CitrusBR, uma revisão dessa tarifa significa melhorar o acesso a um mercado com perspectiva de crescimento, explica Ibiapaba Netto. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estima um aumento de 3,65% na produção chinesa, que pode chegar a 45,400 mil toneladas na safra 2018/2019.
Mas o volume representa menos da metade do consumo no país estimado pelos técnicos do governo americano: 98,900 mil toneladas, 2,8% a mais que na safra 2017/2018. A demanda chinesa por suco estrangeiro deve passar de 55 mil para 56 mil toneladas na safra atual.
“A China é um mercado onde o consumo tem crescido, mas a participação brasileira não. Quando olhamos a nossa participação em outros mercados e comparamos com a China, é menor justamente pela falta de competitividade que a tarifa de temperatura nos impõe”, resume.
Ainda que os dados do USDA indiquem um consumo aumentando em ritmo um pouco menor que a produção de suco de laranja na China, Ibiapaba Netto entende que faz sentido o país incentivar importações. Argumenta que o mercado de mesa paga mais pela fruta do que a indústria. Da safra chinesa de laranjas, apenas 5% viram suco, diz o diretor da CitrusBR.
“No final das contas, é uma combinação. Para exportar para a China, tem que ter um bom produto, tradição no que faz e uma visão de futuro sobre essa relação. Quando junta tudo isso, cria o ambiente para que seja possível viabilizar uma questão. Acreditamos ter um bom caminho pela frente”, explica Netto.