G1 / TV Globo – 19/08/2019 – Em quatro anos, mais de três milhões de insetos foram criados no laboratório do Fundecitrus
Uma vespinha tem ajudado produtores de laranja a controlar o greening, doença que causa prejuízos nos pomares de laranja. Em quatro anos, mais de três milhões de insetos foram criados no laboratório do Fundecitrus em Araraquara (SP).
As vespinhas, cujo nome científico é tamarixia radiata, não passam de um milímetro. Elas são usadas para combater o psilídeo que transmite para os pés de frutas cítricas uma bactéria que causa o greening, doença que mata a planta, deixando as folhas amareladas e afetando o desenvolvimento dos frutos.
Processo
A vespa deposita seus ovos na ninfa do psilídeo, que é a fase antes do inseto se tornar adulto. A larva da vespa se desenvolve dentro na ninfa e se alimenta dela até crescer. A ninfa parasitada morre e assim é interrompido o ciclo de reprodução. “Cada vespinha consegue parasitar até 400 ninfas do psilídeo”, disse o pesquisador Renato Bassanezi.
O controle é de 70% a 80%, explicou a bióloga colombiana Clara Delgado. Ela trouxe para a região uma larga experiência de trabalho com a vespinha, na época em que morou na Costa Rica. Hoje, ela é responsável pelo laboratório de controle biológico do Fundecitrus, criado há quatro anos especialmente para multiplicar a vespa.
Plantações
As vespas criadas no laboratório são soltas em locais que ficam em volta das plantações comerciais e onde não há controle sistemático do greening.
Um exemplo são os pés de murta plantados na calçada de um bairro de Gavião Peixoto. O lugar fica a cerca de dois quilômetros da plantação de laranja mais próxima. A ideia e evitar que os insetos que possam infestar uma planta cheguem até lá. “O psilídeo gosta muito dessa planta para se reproduzir”, disse Bassanezi.
A soltura acontece quando o Fundecitrus identifica um aumento na quantidade de insetos que causam a doença. Esse controle é feito com a ajuda dos produtores. Eles têm espalhados na plantação armadilhas, que atraem o psilídeo pela cor amarela, e ficam presos na cola do papel.
A cada 15 dias, o produtor conta quantos insetos têm na armadilha e manda a informação para o site do Fundecitrus. A partir disso inicia-se uma ação coordenada de controle do inseto.
É preciso que na mesma semana todos os produtores em um raio de cinco quilômetros façam a pulverização para matar o psilídeo, além das outras ações de combate ao greening, como substituir as plantas doentes por mudas sadias.
Resultados
A ação coordenada entre produtores e o Fundecitrus tem resultados positivos. Na Fazenda São Judas Tadeu, em Boa Esperanças do Sul, achar uma planta atingida pelo greening é cada vez mais difícil. Elas representam hoje 1% dos 182 mil pés de laranja.
O administrador da fazenda, Donizete Aparecida de Oliveira, contou que há três anos o percentual de plantas infectadas era maior. “Chegamos a erradicar mais de 3%. É um grande prejuízo porque levam três anos para a planta começar a produção”, disse.
Produzir frutas bonitas e sadias, com ótimo valor de mercado, é resultado da união de esforços de muita gente e da vespinha minúscula, mas poderosa.