09/09/2020
México bate Brasil em venda de suco aos EUA
Valor Econômico - Sem pagar tarifa e com logística mais barata, país vizinho ao mercado americano amplia embarques
Embora ainda sejam o segundo principal destino dos embarques brasileiros de suco de
laranja,
os Estados Unidos já não têm mais o peso de outrora para as grandes
indústrias instaladas no país nesse comércio. Também grandes produtores e
exportadores da bebida, os americanos têm dado cada vez mais
preferência ao suco do México para suprir sua demanda, e uma reconquista
sustentável de espaço pelo Brasil dependerá, em larga medida, de uma
isonomia tarifária com o concorrente latino da América do Norte.
Estudo recém-concluído pela
CitrusBR, entidade que representa as três maiores exportadoras de suco de
laranja
brasileiro (Citrosuco, Cutrale e Louis Dreyfus Company), mostra que as
vendas do México para os EUA, que começaram a ganhar força em 1993,
dispararam a partir de 2008, quando o imposto de importação que incidia
sobre o suco de
laranja concentrado e
congelado (FCOJ) do vizinho foi zerado - no âmbito do acordo do Nafta - e
o produto brasileiro continuou a pagar US$ 415,86 por tonelada.
Em 1993, quando a taxa dos EUA que onerava o suco de todas as origens
ainda era de US$ 490,02, o Brasil exportou aos EUA 144,5 mil toneladas
de FCOJ; em 2019, o volume foi de 71,1 mil. Na mesma comparação, mostra a
CitrusBR, as vendas do México subiram
de 9,8 mil toneladas para 74,7 mil, o que transformou o país no maior
fornecedor estrangeiro da bebida para o mercado americano. No total, os
EUA continuam a importar entre 150 mil e 160 mil toneladas ao ano, a
depender de sua safra de laranja e dos estoques disponíveis.
“Com um produto de boa qualidade, semelhante ao produzido na Flórida, e
um custo de frete terrestre cerca de 50% mais barato em comparação à
logística marítima brasileira, o produto mexicano segue ganhando espaço.
Em 1993, a participação mexicana [nas importações de FCOJ dos EUA] era
de 6%, enquanto a brasileira correspondia a 89%. Transcorridos 28 anos, a
participação mexicana aumentou para 46% e a brasileira caiu para 44%”,
reforça o estudo da CitrusBR.
A entidade também calcula que, de 2008 a 2019, o FCOJ brasileiro foi
taxado com imposto de importação americano, no total, em US$ 548
milhões, enquanto o México deixou de pagar US$ 405 milhões. Essa
“economia” não precisou ser destinada a investimentos na expansão da
área mexicana de plantio de laranja,
que tem se mantido relativamente estável em torno de 340 mil hectares -
ante 400 mil hectares de área produtiva em São Paulo e Minas, onde as
indústrias exportadores de suco brasileiro se abastecem de
matéria-prima. “Com 65 milhões de árvores produtivas há mais de dez
anos, o incremento da oferta do México acontece pelo aumento da produção
de caixas por árvore, devido à renovação de pomares e, também, tratos
culturais”, diz a CitrusBR.
Conforme a associação, depois de aplicadas as deduções de imposto de
importação, custos de desembaraço e fretes - marítimo no caso brasileiro
e terrestre no mexicanos -, a diferença chegou a quase US$ 485 em favor
dos exportadores do país da América do Norte na safra 2019/20,
encerrada em junho. Enquanto o suco do México registrou valor FOB médio
de US$ 1.378,75 nos EUA na temporada, o brasileiro gerou remuneração de
US$ 894,95, segundo os cálculos da CitrusBR.
Como uma severa estiagem prejudicou os pomares mexicanos este ano e a
produção de suco do país deverá recuar cerca de 60%, segundo estimativas
do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), o Brasil poderá ampliar
as vendas ao mercado americano, desde que os estoques da Flórida não
sejam suficientes para suprir a demanda. Mas será um ganho conjuntural,
quando para a cadeia citrícola brasileira o importante seria uma
retomada estrutural - até porque o mercado global permanece
relativamente estável há mais de uma década e novos mercados, como a
China, ainda crescem em ritmo lento.
Impulsionados pela força da demanda dos EUA, o México também aproveita
negociações comerciais para obter tarifas preferenciais para seu suco de
laranja, o que também afeta o Brasil
em outros mercados. Foi assim com Costa Rica, El Salvador, Guatemala,
Nicarágua, Japão e Nova Zelândia. Além disso, os mexicanos têm cota de
30 mil toneladas com taxa reduzida para vender à União Europeia, que
lidera as importações globais e é o principal mercado do Brasil. A UE
comprou US$ 1,2 bilhão do país na safra 2019/20, de um total de US$ 1,8
bilhão; os EUA, US$ 277 milhões.
Publicado no jornal Valor Econômico